surpreendentemente, decidi que quero viver:
quero, apaixonadamente, viver.
viver os momentos intensamente,
ouvindo a voz de quem me conta uma história,
uma história épica ou uma história estúpida,
qualquer história me encantaria.
Ao mesmo tempo eu estaria confabulando planos,
planos possíveis e impossíveis,
planos pessoais, profissionais e oníricos.
Seria capaz de mudar o mundo:
ser voluntário na África,
doar sangue, medula e meu rim,
ir à Paulista ou Esquina Democrática protestar contra a mais recente injustiça
e oferecer água à todos os mendigos da Rua da República.
O que for que seja,
se eu pudesse sentir todos os dias o ânimo de agora,
este ânimo que já se foi,
eu mudaria tudo neste instante,
eu correria todo o perímetro terrestre só para impedir a mais simples injustiça
mas neste instante o cansaço retorna:
eu já desejo que um vírus elimine a espécie humana.
minha bondade deseja que este vírus não cause dor
e que ao menos este Armagedom não dure mais que um mês ou dois
planos, não há mais.
a vida se esconde atrás das paredes do meu quarto
e meu quarto é o mundo.